terça-feira, 12 de abril de 2011

O roubo do Catchup

Não, não é que eu queria roubar um catchup na padaria... Ah, é sim, eu queria roubar um catchup na padaria. Eu planejei durante muito tempo. Todo dia minha mãe me mandava comprar pão. Era sempre "compra uma bisnaga e um leite". E ia eu pela rua Bicas até a mercearia. A moça da mercearia dançava jazz e eu gostava dela. Mas eu era muito tímido e não sabia como me aproximar e puxar assunto, o que seria uma bobagem já que eu tinha 8 anos e ela devia ter uns 30. Mas eu gostava dela e a observava enquanto passava um papel em volta da bisnaga e pegava o leite Itambé de saquinho. Eu entregava o dinheiro, pegava o troco e ia embora pensando em um dia falar alguma coisa. Meio parecido com a ruivinha do Charlie Brown... Foi assim durante muito tempo e eu sempre pensando em como falar com ela.
Um dia, após comer um copo de açucar, é, eu colocava 3 colheres de sopa de açucar em um copo e comia, fui comprar a bisnaga e resolvi falar com ela. Foi assim:
- Oi.
Ela:
- Oi.
- E aí, como vai o jazz?
- Han?
- É... não... nada não... eu quero uma bisnaga e um leite...
E saí constrangido, muito constrangido com a minha atuação.
Foi então que fiquei com ódio dela e decidi que ela deveria pagar, e o preço seria um catchup. Catchup era mais fácil por que ficava na estante bem perto da porta, seria só pegar e sair.
Durante vários dias sondei o ambiente e calculei como eu faria tudo. Na hora de ir embora eu olharia pra trás e, vendo que ela não estava olhando, eu pegaria o catchup, colocaria na sacolinha do leite e iria embora, vingado.
Não lembro qual dia foi mas saí determinado, depois de um copo de açucar, a pegar meu catchup. Entrei na mercearia nervoso, peguei a bisnaga e o leite, paguei e fui saindo devagar. Com a cabeça um pouco virada observei que ela estava de costas pra mim. Então estiquei o braço e quando ia pegar o catchup, ouvi:
- Ei... o troco...
Corri! Corri como nunca tinha visto ninguém correr antes. Não peguei o catchup, apenas corri. Corri para a liberdade. Corri para salvar minha vida! Corri para não ser preso para sempre pelo meu crime. Ah como eu corri!
Cheguei em casa e disse para minha mãe que havia perdido o troco. Ela gritou comigo, mas pareceu pouco, perto do medo de quase ter acabado com minha vida... Nunca mais fui à mercearia. Passei a ir na padaria, mais longe, mas ninguém me reconheceria ali.

2 comentários:

  1. gostei da ideia!
    afinal o que não falta na sua infância são muitas histórias! :)

    bjos

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  2. Isso me fez lembrar quando eu roubei o leite, eu queria ficar com o dinheiro do leite pra mim. Entrei na padaria, peguei o leite e coloquei em uma sacola que ficava na pilha de sacolas no caixa. Aí fui pegar o pão e coloquei o pão na sacola por cima do leite.
    Cheguei no caixa pra pagar, e já fui falando pra moça sem respirar " são 10 pães quanto que é o babaloo?"
    Essa fala era pra distrair a moça e ela não falar " mais alguma coisa?"
    Aí ela disse : "é tanto"
    Eu paguei e não paguei o leite. Quando tava saindo ela falou " e o leite?"
    Eu: que leite?
    O leite que está na sua sacola.
    Ahhhhhhhh o leite, ÓH! Esqueci.
    "Não esqueceu não , você não queria pagar o leite"
    Eu: O QUÊ? COMO VOCÊ PODE FALAR ISSO EU HEIM, EU COMPRO PÃO AQUI DESDE QUANDO EU ERA PEQUENA!! ( Eu ainda era pequena,tinha uns 6 anos) VOU FALAR COM MINHA MÃE QUE VOCÊ FALOU ISSO!
    Paguei o leite e fui embora com muita muita vergonha! rss
    (

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