terça-feira, 13 de setembro de 2011

A transformação no judô


Eu fazia judô no Tatami Judô Clube quando era pequeno.
Mas quando eu era pequeno eu não tinha noção de absolutamente coisa nenhuma. Eu era daqueles meninos que dizem que é "viajado" e parecem que estão distantes ou coisas do tipo.
Que não é daqui da terra, sabe?
Então chegou o dia da graduação onde eu passaria para a faixa amarela.
Estávamos todos em volta do tatami enquanto o professor chamava os alunos para uma luta simbólica e depois a entrega da faixa.
Minha ansiedade era maior que minha própria vida afinal eu ia mudar de faixa, e para mim era como, por exemplo, deixar de ser humano e virar um semi-Deus.
Por aí.
Todos os pais aguardavam do outro lado do tatami, perto das escadas, assistindo o evento. Tudo fluia bem e o evento era agradável de se ver. Mas meu cérebro, ah o meu cérebrinho, ele não podia simplesmente aceitar a mudança de faixa, ele não podia apenas me deixar lutar e fazer a graduação. Não, não esse bolo de minhoca.
Nesse momento eu comecei a sentir pena dos meus pais, coitados, tinham um filho que não era nada demais, apenas mais um judoca que ia pra faixa amarela, filho normal, que nem dava muito orgulho.
Coitado deles, eu não podia deixar isso assim.
Então eu pensei que se eu revelasse a todos a minha verdadeira identidade, ali, no meio daquele monte de pais e alunos, se eu contasse quem eu realmente era, todos ficariam assustados, impressionados e assustados. E meus pais ficariam orgulhosos de mim.
"Está certo" pensei. A hora é agora.
Aproveitei que estava sentado no chão de pernas cruzadas e de costas para a parede e, num golpe rápido, joguei a cabeça para trás, batendo-a com força na parede. Imediatamente comecei a sentir minha transformação...
Eu mexia a cabeça devagar e aos poucos fui mexendo os braços, fazendo uma careta discreta e depois aumentando para uma cara raivosa e cheia de ódio.
Depois comecei a fazer ruídos do tipo "rawwrrrr", "grrrrrr" e ia aumentando aos poucos, "ROAAAAURRRRRRR" enquanto me transformava num sujeito gigante e muito forte, como o Incrível Hulk, da televisão.
Quando já estava quase de pé e com a cara visivelmente transformada pelo ódio e fúria e mexendo os braços aleatoriamente o professor disse:
- Senta aí! Já te chamo!
Destransformei.
Sentei de novo no meu cantinho e esperei minha vez.
Que dó que deu de mim naquele dia...