quarta-feira, 13 de abril de 2011

Alimentando as galinhas

Eu estava na casa do Kazé que era muito legal e tinha um quintal bacana com um pé de manga gigante e uma área de terra onde a gente fez o campinho. O campinho era todo torto e irregular, afinal era um quintal e não um campo, mas era perfeito. Sempre brincávamos por ali.
Um dia minha tia brigou com a gente porque estávamos sempre jogando a bola na casa do vizinho e então mandou parar tudo. Ficamos sem ter o que fazer, e criança sem ter o que fazer é um perigo. Foi aí que começamos a andar e vagar pelo quintal conversando e tentando encontrar algo novo para ocupar o tempo. Avistamos, debaixo da escada da casa do Kazé, um cômodo que estava, desde alguns dias atrás, cheio de galinhas. "Ela deve estar criando galinhas agora né, kazé?", "É, É!", "Vamos lá ver?"
E fomos até a porta do cômodo. Devia haver umas 12 ou 13 galinhas e um galo. Ficamos olhando e nada chamava a nossa atenção, eram apenas um bando de galinhas fedorentas.
Kazé: "viu que tem umas gordonas e umas magrelas?"
Eu: "Vi sim."
Kazé: "Umas devem passar fome. Vai ver que umas comem as comidas das outras, aí as outras ficam sem comer".
Eu: "É mesmo."
Katapuft! Nesse momento a criança sem noção do mundo emerge de dentro de mim: "Por quê a gente não dá comida pra elas? Muita comida mesmo, aí todas vão ficar cheias e nem as gordas vão dar conta da comida das magrelas."
"Isso mesmo, vamos pegar minhocas no quintal então", falou o kazé.
Voltamos ao quintal e cavamos buracos, desentarramos plantas e esburacamos o chão atrás de minhocas. O resultado foi uma lata de óleo até a metade com minhocas de todos os tamanhos.
"Pronto, agora vamos dar para as galinhas".
Mas, como distribuir as minhocas para as galinhas? Não tinha tantas assim para que as gordonas deixassem sobrar, e quando jogamos uma só para fazer um teste, uma das galinhas gordas voou sobre ela e não houve tempo para as magrelinhas.
"Por quê a gente não pega as magrelas e vai alimentando uma por uma?" Não sei quem foi o autor da frase infeliz...
Entramos no galinheiro e apesar do galo por perto fomos agarrando cada uma para iniciar o processo de alimentação das magrelas. A idéia consistia em abrir o bico dela à força, enfiar a minhoca dentro e então fechar para que ela engolisse.
Tentamos e tentamos, mas não era fácil.
"Vamos molhar as minhocas que aí elas escorregam melhor" falei.
Então saí do cômodo e voltei com uma lata, onde molhamos cada minhoca e aí sim, elas desciam "redondo" pela goela das magrelas. Até sobrou minhoca e, com exceção do galo, alimentamos as gordonas também.
No dia seguinte minha tia acordou a gente aos berros. Queria saber se a gente tinha algo a ver com a morte de todas as galinhas. Ela ia montar uma granja! Estava investindo, comprando e se preparando para fazer daquilo um comércio e, de repente, todas mortas!
Não foi a gente na época. Não mesmo.
Mas hoje ela já sabe que foi. E o líquido da lata era Kaol, um produto químico para fazer polimento de metais.
Que o Deus das galinhas as tenha.

2 comentários:

  1. SENSACIONAL!
    Essa história é ímpar!
    fiquei aqui gargalhando sozinha :)

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  2. tb fiquei fiquei aqui gargalhando sozinha! rsss
    Serial killer de galinhas!

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